quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Estou muito ocupada...Neste momento, estou amando viver.



Ao colocar os pés na calçada em frente a firma que trabalhava, foi invadida por uma sensação gostosa de liberdade...Fechou os olhos e pensou...Dois dias inteiros, inteirinhos para vagabundear por onde quisesse.
Resolveu andar um pouco e foi mentalmente fazendo planos para o fim de semana...É iria mesmo ficar em casa, colocar as gavetas em ordem, sair com os amigos, dar uma volta no shopping e comprar aquele maravilhoso tênis todo bordado de lantejoulas vermelhas...AH! Quando o pessoal visse...AHahah...
Para ela viver era vez por outra transgredir, balançar as estruturas, entregar-se ao inusitado...Largava o papel de Profissional, e vestida só de esperança e sonhos, ia viver o que aparecesse...
Sentiu fome... sentou em um café e começou a pensar na vida...
Com ela sempre tinha sido assim...Dias felizes, momentos felizes, alegrias, risadas e de repente sentia fome... Fome de comida, fome de liberdade, fome de Amor...Fome de vida.
Seu pensamento foi longe...E, lembrando-se das fases que marcaram definitivamente sua vida,recordou: aos quarenta anos, não tive tempo de ter nenhuma crise existencial, comprar mil cremes, ter massagista, ir fazer análise...Nada disso...Estava muito ocupada sendo feliz... IA SER MÃE; os cinquenta anos chegaram mas levaram minha mãe, aí fiquei muito ocupada tentando fazer o que minha mãe fez com "o pé nas costas" a vida inteira - ser mulher, esposa, mãe, Profissional, dona de casa - mas para mim não deu, meu casamento acabou, tinha um filho para criar e a mulher foi engolida pela Profissional, enquanto muito canhestramente tentava ser dona de casa; logo depois, novamente, a vida gritou comigo e atônita vi meu pai e o pai de meu filho irem embora... Também, não tive tempo de ter pi ti ou mesmo de pirar...Com o filho entrando na Faculdade, a vida mostrou sua cara e me chamou para a luta...Eu fui.
Hoje já passando um pouco dos sessenta, a vida está começando a se normalizar e apesar de algumas feridas que não cicatrizam nunca, refaço minha vida numa boa. Tenho a companhia de meu filho pelas estradas da vida, que agora já é um homem de vinte e dois anos, trabalho, viajo, tenho muitos amigos (alguns bem especiais), dou muitas risadas, sem o menor pudor sonho sonhos de menina e sempre que dá, sem me ferir e a ninguém, os realizo.
Enquanto tomava sua xícara de chá, constatou...Sem dúvida nenhuma estou muito ocupada. Neste momento, estou amando viver.

(Maria Emilia Xavier)

Um comentário:

Gilson Faustino Maia disse...

O negócio é aproveitar a vida sem correr o risco de perder a próxima. Como disse José de Alencar: "tudo passa sobre a terra". Viver em um casulo, não. Juízo e pé na estrada.