Acordo e começo a tentar, me espreguiçar, não consigo...Tento me enroscar em mim mesma, não consigo...Vou sentar, mas tem alguma coisa na minha frente...Ah... Não tem não...Sou eu mesma barrigudona...Essa coisa linda que toda mulher sonha desde pequena está acontecendo comigo... Eu vou ser MÃE... EU VOU SER MÃE...É verdade!...É verdade!
Hoje, dois de outubro, segundo minha prima e comadre, vou levar um chute da felicidade, e, cá comigo penso, ela veio, também, para trazer seu representante, pois já que não dá para ficar só comigo, vai me dar um menininho ou uma menininha para representá-la e para me lembrar a todo instante que a felicidade existe e quem cuida dela sou eu.
Levanto o mais lépida que consigo – leiam pelo menos uns 5 minutos para conseguir ficar em pé – ligo o som e vou igual a uma barquinha, “pensando” que corro, para o espelho e fico admirando e acarinhando meu barrigão enorme, lindo, e, parece que ele/ela pressentindo tanto amor acompanha o bailado que faço com minhas mãos e se movimenta prá lá e prá cá encostado às palmas das minhas mãos...De repente sinto mais duas mãos em meu belo barrigão, que acompanham meus gestos e ele/ela como que adivinhando a presença do pai, acelera o passo da música e faz seu próprio arranjo... Agora somos nós que acompanhamos o seu bailado, sem coragem de quebrar este momento mágico, ali permanecemos os quatro: filho/a, mãe, pai e DEUS o maestro desta performance.
E, quando a noite chega, entro na sala de parto já sabendo que será João Vitor que sairá de lá comigo, para uma longa caminhada de muita fé, felicidade, saúde,paz, amor
Maria Emília Xavier
Primavera/1987
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