segunda-feira, 24 de janeiro de 2011


Ainda sob o impacto da dor alojada em nossos corações, com os últimos acontecimentos em diversas Cidades do País, nós do "De olhos fechados" gostaríamos de nos solidarizar com todos os irmãos que sofreram perdas irreparáveis.
 Iniciamos com esta postagem única, com tema livre, os trabalhos de 2011. Agradecemos a presença de todos os amigos no ano que passou e esperamos continuar a merecer o carinho  de todos vocês que nos prestigiam com a visita e comentários diários.









TENTAÇÃO
És o céu de minha carne ardente.
És o inferno de minh’alma triste.
Tal qual de Adão, és minha serpente.
És tentação que não se resiste.


És sol nas trevas de meu poente.
És paraíso que não existe.
Enquanto finges ser inocente,
és tentação que não se resiste.

De um céu de trevas e de incertezas,
és como a lua lá na amplidão.
Lá, bem distante, quantas tristezas


talvez despertas no coração.
Quero ser puro e quantas vilezas,
pois de minh’alma és a tentação.


Gilson Faustino Maia
Petrópolis/RJ







“DO RIO QUE TUDO ARRASTA SE DIZ VIOLENTO. MAS NÃO DIZEM VIOLENTAS AS MARGENS QUE O OPRIMEM"
 (B. Brecht)


O que mais atraiu o homem para a vida em comunidade, fazendo-o deixar de ser nômade caçador foram as terras férteis nos vales dos rios, depois que eles passavam por um processo de cheias e transbordavam. Os primeiros registros históricos nesse sentido vem do Egito, nos vales alagados do rio Nilo.

Um dia, algum espertinho passava por ali, jogou fora umas sementinhas de frutas que estava comendo e continuou sua caminhada. Algum tempo depois, voltando para procurar mais alimentos viu que elas haviam germinado e se transformado em plantas viçosas. Cansado de tanto andar para poder comer, resolveu chamar a sua turma para uma reunião e mostrou seu grande feito. Estava criada a agricultura de subsistência. Ali mesmo fincaram barraca. Começaram a domesticar animais e a plantar outras coisas. Vendo que o negócio era mesmo bom, construíram em volta as primeiras casas, daí se transformaram em vilas. Outros nômades, vendo a próspera aglomeração foram chegando, chegando e eis a história das cidades começando a engatinhar.

A natureza continuou suas peripécias maravilhosas para manter o seu equilíbrio, mandando ver com sol, chuva, ventos, frio e as demais coisas das quatro estações, inclusive flores na primavera para enfeitarem os romances que iam surgindo no meio daquela gente toda ali reunida. As enchentes continuaram e de vez em quando alagavam algumas casas mais próximas do leito do rio. Como não havia poder público ainda, nem para resolver nem para atrapalhar, cada um dava seu jeito, arredando mais para diante. Alguns incautos acabavam levando a pior, afinal nem tudo era bem pensado. Assim foi se sucedendo e o homem tão logo saturava aquele lugar depois que exauria os nutrientes do solo, ia em busca de outros vales férteis.

Isso eu acho que acabou se transformando num costume; mais pela necessidade e falta de outros recursos tecnológicos do que por insensatez. Também há que se levar em conta que naqueles tempos havia muito pouca gente no mundo e espaço não faltava. Nem rios, nem lagos nem terras férteis. As águas, depois que o homem aprendeu a encaná-las e a fazer reservatórios deveriam ter ensinado ao homem que ele não mais precisava construir tão próximo desses locais, pois enquanto elas não secarem de vez e a natureza continuar buscando seu equilíbrio, vai haver chuvas abundantes e as enchentes vão tomar proporções cada vez mais catastróficas.. No entanto, hoje, se olharmos para a maior parte das cidades do mundo inteiro, veremos que elas estão às margens de um rio, ou melhor, elas agora engoliram os rios, que ficaram prisioneiros em seus leitos canalizados, oprimidos pelo concreto para dar lugar a mais e mais pessoas, casas, ruas e automóveis.

É verdade que nesse meio tempo a desigualdade sócio-econômica foi se acirrando e os mais pobres ficaram sem muita opção de locais para morar. Quem tem mais posses afastou-se das margens, encanou e levou a água para lugares mais altos e com a desvalorização ou o desprezo pelas áreas ribeirinhas, é quase natural que estas camadas de populações fossem se alojar por ali e ficar à mercê do rio que tudo arrasta quando a chuva é torrencial. Ou então procurarem as encostas mais altas, sem, entretanto disporem de um serviço de engenharia que os auxilie na montagem segura de suas residências que desabam como papel, já que as chuvas caem lá em primeiro lugar.

               José Cláudio – Cacá

                  Belo Horizonte/MG
      http://uaimundo.blogspot.com/



                                         




                                                                                
     
                                      SANGRANDO DE DESEJOS.

Com meu corpo sangrando de desejos
sem ter luvas de malha ou de amianto,
fiz buracos por todo aquele canto
sem saber que eu portava esses manejos,
para fugir ao encontro dos teus beijos
eu cavava com a minha própria mão,
e nas paredes sujas da prisão
escrevi com meu sangue: liberdade!
Fiz um túnel na cela da saudade
pra poder escapar da solidão.
 
Ademar Macedo
Natal/RN








ANTES CIDADE, HOJE SAUDADE 



Antes ali era uma cidade
Hoje para muitos, saudade
Pessoas ainda desaparecidas
Em meio a lama nas descidas


Meu coração se aperta num nó
Me sinto um grande inútil e só
Posso enviar roupa, dinheiro
Medicamento e comida

Mas como devolver a alegria
Para aqueles cuja alguma vida
Durante a catástrofe foi perdida?

Só me resta então uma opção
Fazer junto a todos mais uma oração
E pedir ao Pai que Lhes dê abrigo
Que Lhes livre de todo o perigo


Que Leve conforto à suas dores
Não para que esqueçam os seus amores
Mas para que possam nesse instante
Encontrar forças para seguir adiante

Apesar de que é certo:
Antes ali era uma cidadeHoje para muitos, saudade

JGCosta

Itatiba/SP

http://www.jgcosta.prosaeverso.net/
http://joefatherbr.blogspot.com

http://www.youtube.com/user/JoeFatherBrJG








DO JEITO QUE TÁ

Perdoe-me meu amigo
Por este meu jeito de ser
Tão desligado de tudo
Tão diferente de você

Minha cabeça funciona
Ao oposto da tua
Com isto eu sofro bem menos
As cessões do dia a dia


Gosto deste meu jeito
E não pretendo mudar
Mais reconheço tua luta
Em mudar meu comportamento
Meu modo de pensar

Não absorvo os conselhos
Que sempre me procura passar
Pois sou cabeça dura
E me gosto do jeito que tá.

Jorge Roberto Soares
Além Paraíba/MG

 Recanto das Letras









AGORA!



Não sei e nem preciso saber,
se o que vem depois nem possa acontecer,
e até se o amanhã vai chegar.

 
Sei do já, sei deste instante, deste momento,
com o depois e o mais tarde, não me atormento,
vivo o agora, esqueço o antes, sem me preocupar.

O tempo me entende, é meu companheiro,
sei viver meus minutos por inteiro,
não adianto e nem penso em me atrasar.


O antes não volta, já foi embora,
o depois ainda vem, em cima da hora,
e eu só sei que o agora, é que me faz suspirar ….
Wilson Ramos
Belo Horizonte/MG






AMOR VIRTUAL
Meu amor, por favor, não me “delete”,
na “informática” vamos “navegar”...
Se você resolver me “formatar”,
eu esqueço de vez essa “Olivetti”...

No mundo virtual dessa “internet”,
meu “e-mail” você pode “clicar”,
vê no “Orkut”, “Word” é só você gravar
no DVD em vez de algum disquete.

PowerPoint com mensagens virtuais,
que eu edito nos Chip,s especiais
que pelo yahoo eu faço a transmissão.

Mas se este meu amor não der ibope,
se me trocares por qualquer laptop...
Tens um pendrive em vez de um coração...

Francisco Macedo
Natal/RN








QUANDO O INESPERADO ACONTECE...



Ela entrou fechou a porta e ficou parada no meio da sala, olhando pra nada. O telefone tocou e com um meio sorriso, atendeu.
- Alô...Alô...Alô... Achei que não ia ligar. Hoje você vai ficar sem escutar minha linda voz...Ahahah... Tenho trabalho a fazer. Boa noite.
Desligou.
Pensou...isso já está indo longe demais, melhor dar um basta, afinal esses telefonemas vinham acontecendo há cerca de vinte e cinco dias e ela não conseguia identificar quem ligava. Lembrou de sua reação no início, ficou indignada, mas fosse quem fosse soube como amansá-la através de um repertório musical maravilhoso e conquistou o direito de escutar sua voz, alguns elogios e muitos pedidos para que se identificasse. Apesar de ser um diálogo unilateral, de palavras, era verdadeiro, pois era respondido sempre com músicas lindas. Sorriu ao recordar-se o quanto foi tocada quando sua música favorita foi colocada como um pedido de desculpas.
Perdida nesses pensamentos, assustou-se quando novamente o telefone tocou e instintivamente atendeu:
- Alô?
-Preciso te ver, uma voz masculina respondeu.
-Quem está falando?
-O seu DJ preferido.
Seu coração veio a boca disparado e depois de uma interessante conversa, agora real, esqueceu-se do trabalho, de tudo que tinha para fazer, correu para o banho e deixando de lado o pijama que a aguardava esticadinho na cama, vestiu um jeans e uma camiseta - belíssima e caríssima – calçou sua mais linda sandália, passou um brilho dourado nos lábios, soltou os cabelos amassando-os com as mãos, para dar mais volume, conferiu - se no espelho e pensou: uauauau, você está linda...AHahah. Pegou sua bolsa, ao passar pela sala soprou um beijinho para o telefone e feliz foi ao encontro do inesperado...
Maria Emilia Xavier

5 comentários:

Caca disse...

Isso ficou uma belezura, Maria Emília! Parabéns a todos e especialmente a vocÊ! Òtima semana. Paz e bem.

chica disse...

Maravilha todas essas manifestações poéticas nesse post de abertura! beijos,tudo de bom e vamos que v amos sempre...chica

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Bom dia, querida amiga.

Seu blog é lindo, com tantos poemas maravilhosos.

Agradeço a honra da sua visita e seu comentário atencioso. Penso igual a você, sobre a bolsa família.

Tudo que possa ser feito contra a miséria, certamente manterá sob o mesmo teto, os filhos e suas mães.

Não citei o (Pai) porque com todo o respeito pelos que são bons, na maioria das vezes eles abandonam o barco, deixando só para as mulheres, a responsabilidade de criar seus filhos.

Beijos no coração.

Anônimo disse...

Maria: Lindissimo adorei tanto os textos como os poemas parabéns pelas belas manifestações poeticas.
Beijos
Santa Cruz

JoeFather disse...

Amiga Emília, belíssimos trabalhos a amiga separou para essa postagem inicial. Me orgulho de estar incluso nela!

Grande abraço para todos!

JGCosta